quinta-feira, março 16, 2006

Entreveros

O asfalto queima os pés e esconde meus mistérios.
Os arranha-céus bloqueiam o sol e deixam-me pequenina.
As ruas se cruzam, assim como as pessoas. Eu me vejo em paralelas.
As parabólicas captam meus desejos mas a televisão continua fora do ar.
A névoa toma conta dos meus tormentos.
As placas dizem e eu me calo.
As luzes dos carros iluminam as ruas e me cegam.
Excesso nas marginais. Falta em mim.
A rádio pirata tenta a inclusão na frequência. Eu também.
Árvores buliçosas deixam cair folhas secas sobre o meu corpo, que cria raízes.
Olhares eletrônicos me perseguem, mas não me encontram.
Janelas não revelam o lado de lá. O lado de cá ninguem quer ver.
Em suas redes, varandas guardam solidão à dois.
Os quadros descolorem e eu não acho a aquarela.
As paredes são rebocadas e a minha pele se despedaça.
Há sinalização de velocidade máxima e eu corro sem me preocupar com a curva.
Minhas costas doem e eu resisto aos efeitos químicos.
Me enlouqueço calmamente.

O dia se renova todo dia. Eu envelheço cada dia e cada mês.
O mundo passa por mim todos os dias. Enquanto eu passo pelo mundo uma vez.

3 comentários:

Fabricio Teixeira disse...

é.. impotentes, inconsequentes, inconstantes.. é assim que somos, pois somos jovens, e nada vai mudar isso =)

Anónimo disse...

já não concordo. concordo q jovens, adultos, crianças ou velhos, passam assim pelo mundo. a diferença é o momento em que enxergamos isso. viver.

Benites disse...

Passa, mas não é sem motivo e não é um momento imprestável.
A graça da vida é nascer de novo a cada dia.
Se hoje não é assim, a gente faz com que seja amanhã