segunda-feira, agosto 14, 2006

Ela

que encontro todos os dias de manhã em frente ao espelho. Ela que tenta me lembrar do sonho da noite anterior enquanto escovo meus dentes. Ela que, ao me ver suspirar fechando pálpebras, repara em olheiras dizendo: você não precisa dormir mais, e sim melhor. Ela que compõe um novo samba para mim, todos os dias.

Ela não me da respostas, não apaziguadoras, ao contrário, me produz novas perguntas. Em diálogo mudo me diz que é preciso ter a necessidade do mal para sentir o bem; da noite para se admirar a luz; da doença para apreciar a saúde. Ela que é espectadora de mim e fica ali comigo, diariamente, trocando espinhas por marcas de expressão. Que conhece cada cicatriz do meu corpo e da minha alma e que, por isso, cria nós em nossa relação.

Ela que com sorriso familiar desabrocha minha autobiografia não autorizada.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Sardas

Remo nessa terrena marinha procurando sua margem. Na pontuada lembrança de pétalas perfumadas percorrendo pelo braile da minha pele, lendo-me corpo, desejo e sardas. E quando durmo, sonho-te. Quando me calo, escuto-te. Quando paro, danço-te. Quando me perco, encontro-te.

E tu, continuas
a me olhar com seus faiscantes diamantinos

e me lapidar.