quarta-feira, novembro 22, 2006

Nosso avesso

Enquanto sou água, você é terra.
Eu sou música, você dança.
Eu castanho, você azul.
Eu mar, você rio.
Eu caminho, você desvio.
Eu clave de sol, você de fá.
Eu tudo, você detalhe.
Se vôo livre no seu ar, você enrosca preso aos meus pés.
Se me bebes vinho sangue, te toco água cristalina.

Eu não sou da sua rua,
Eu não falo a sua língua,
Minha vida é diferente da sua.
Estou aqui de passagem.
Esse mundo não é seu.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Por linhas tortas

O telefone tocou e seu singular nome apareceu. Nos reencontramos; nos revivemos. Naquela noite sorrimos um o sorriso do outro. Choramos no dia seguinte.

Eu não esperava você surgir com traços tão fortes. Sentou-se ao meu lado e respirou o mesmo ar pesado que eu. Entre aflições, descobri você. Dormia sabendo que ao acordar após pesadelo, você estaria ali: cantando-me carinho; lendo-me força.

Nos revelamos nus, muito mais do que peças de roupas. Fomos mãos, colo, conversa, homem e mulher.

Entreveros, sou eu agora que velo seu sono. Ao seu lado, procuro tua freqüência e aguardo teu desabafo, mesmo que silencioso. Caminhamos um pouco, recolhemos flores no asfalto, e eu vejo-te sorrindo novamente.

Sei que não posso reconstruir seu chão que sei foi, mas posso em seu caminho florescer conforto. Se me permetires, enquanto procuras sua referência, serei estrela brilhante de noite escura; sopro primavera neste inverno rígido.