terça-feira, abril 25, 2006

Sonhos que semeiam o mundo real

Não consigo distinguir a diferença entre o real e o ilusório. Esse surrealismo constante faz da minha mente confusões, dos meus atos contradições. A sensação é que ainda morrerei de sede em pleno oceano.

Tenho medo das cólicas de alegria, prévias do vazio; das borboletas que insistem em bater asas em meu estômago; do tão difícil minuto seguinte; do riso fingido, escudo de minha fraqueza. Os anjos que me abraçam testam o meu destino e meus pés correm, no escuro, por ruas esburacadas.

Ao mesmo tempo, o barulho feito pelo vento ao soprar por entre árvores faz com que, cada vez mais, eu queira preencher meus pulmões com o olor dessa rosa que me leva para o onde desconhecido. E se é apenas conseqüência dos efeitos químicos, eu peço para que a consciência jamais retorne à lucidez.

O Criador me diz que o poder não corresponde ao querer, e ainda assim, eu quero poder. Desejo, incondicionalmente, segundos do olhar provedor das asas de minha alma sonhadora, que voa pelo acolhedor céu dos seus braços quando mostra-me o eclipse de nossos sorrisos, em uma infinita tela de cinema.


Mas então o dia seguinte chega, o real bate em minha porta, restando-me apenas a espera do próximo sono, tão subestimado pelos que permanecem acordados.

segunda-feira, abril 24, 2006

Sinto, mesmo

Não consigo me lembrar do momento em que você ainda não existia em nossas vidas. Sempre presente em casa o seu rosto fazia-se como alguém da família. A sua alegria e seu sorriso sempre contagiaram os que estavam ao redor, e para mim, ela era nescessária. Mas mesmo assim, por motivo desconhecido, mantivemos uma certa distância que há poucos acabou. Por instantes, vasculhou minha vida, percorreu por minhas terras e me tranquilizou. Fez meu choro sorrir. Porém, ao te dizer que em outras circunstâncias o sol brilharia mais forte, não falava somente de você, mas de mim também. Estamos fixados em tempos diferentes apesar de andarmos pela mesma rua. Infelizmente não consigo controlar meus batimentos impulsivos. Ainda sinto muita falta de ar. Estou aprisionada a uma força maior.

Não te peço apenas desculpas, mas também ajuda.

segunda-feira, abril 17, 2006

Mansas manhãs

Escuro. Sinto o perfume da maresia e ouço o barulho das ondas. O sol do finalzinho da tarde aquece de mansinho o meu rosto e a brisa tenta levar meus cabelos para o longe.

Os olhos se abrem, e se encantam com o horizonte infinito, com o azul das águas que molham meus pés e com a areia branca que escorre pelos dedos de minhas mãos.
Os olhos se abrem, e se encantam com o horizonte do seu sorriso, com o azul da sua roupa e com suas mãos que escorrem pelos dedos das minhas.

Esperamos demais para ler os livros, ouvir as músicas, ver os quadros que irão alargar nossa mente, enriquecer nosso espírito e expandir nossa alma. Espero demais para atravessar os seus lábios à procura do ósculo perfeito. Espero demais para atravessar esse mar. Espero demais...por nada.

Mas é tanto mar.

Meu corpo pede férias em litorais desconhecidos, noites de sono e mansas manhãs com sabor de canela. Meu corpo pede um novo corpo, que não seja opiômano e que não tenha tanta transparência. Com olhos que não lacrimejem tanto com a poeira vinda nos ventos do destino. Com falas sem dizeres e textos sem contextos.

Os olhos se fecham.
Escuro.

quarta-feira, abril 12, 2006

Historicismo

Somos cheios de vidas e nossas vidas são cheias de histórias. Elas passam em nossos caminhos, ficam, mudam o nosso olhar e se vão. Podem ter início, meio e fim. Podem não ter fim, nem meio, nem início.

Nenhuma história acontece isoladamente. Elas estão justapostas como azulejos na parede, estão sobrepostas como pedras no leito do rio, ou simplesmente, se entrecruzam como as linhas do crochê que vovó fazia.

Dona Emília tinha tamanha habilidade com o crochê que fazia colchas lindas, alegrando sempre a casa. Mas muitas vezes a dedicação e o amor dado àquelas peças não as deixavam tão belas quanto ela queria. Então, tranqüilamente, as mãos ja velhas e cansadas desmanchavam o trabalho de tempos.

Queria eu no final da tarde ter o dom de desmanchar as colchas, as linhas, as histórias que não combinaram com o meu quarto. Desconstruir os contos e as fábulas que nos deixam questões, respostas, conhecimentos. Que nos emocionam, alegram, entristecem. Que nos envenenam e nos curam.

Agora vejo no espelho as feridas que elas me deixaram. Estou me acostumando com os curativos. Mas eu queria manter cada corte em carne viva, para que no futuro eu não venha me machucar novamente ao ver uma cicatriz.

Mas não se separa uma história da outra, assim como não se separa a brisa do vendo. O fim de uma, será sempre o início de outra.

quarta-feira, abril 05, 2006

Quero sair desse tempo. Do calendário de ontem. Desses segundos que duram horas, desses ponteiros que se movimentam conforme meus soluços, desse tic tac que acompanha meu coração.

Quero sair dessa alma escrava. Da corrida sem fôlego, do vôo sem asas, do sonho sem sono. Alma que se pesa, descolore, empobrece. Alma que sente, sofre, sangra.

Quero sair da noite. Do escuro que incita minha mente. Do sonambulismo sem fim. Das gotas de orvalho que caem sobre o meu corpo. Dos pedidos à Lua e das estrelas me fitando. Do quente da minha cama, do meu travesseiro molhado.

Quero sair do fundo do mar. Das paredes que me cercam. Dos sapatos sujos. Fugir dos olhos, do reflexo no espelho, das idéias leves e as palavras pesadas. Quero fugir de tantos, tudo, textos. Exilar-me do ninho, do sozinho, do caminho. Sair do céu, da terra, de mim.

segunda-feira, abril 03, 2006

Gosto bom...

Experimentemos os sabores da vida! Ela pode nos fornecer o gosto amargo das angústias a ponto de provocar congestões, mas também pode nos lambuzar com o caramelado das alegrias.
Entre viagens por sabores, descubro que devemos nos temperar, ora com pitadas da afrodisíaca canela, ora com um pouco da apimentada inquietude, ora com o anis que nos traz a tranquilizadora erva-doce.
Joguemos pitadas de sal em nossos caminhos, assim, poderemos aprimorar o gosto de nossas experiências. O colorau para que as cores de nossas vidas sejam apetitosas. A hortelã para refrescar situações adversas e as decisões difíceis. A baunilha para adoçar e aromatizar os pensamentos.
Sábios são os que tem atitudes a base de sabores. Sábios são aqueles que não temperam apenas o paladar, mas também a vida.