quarta-feira, maio 10, 2006

Sonífera ilha

Queria expectorar o que no peito penso, mas a fraqueza me consome e na sua frente, acabo comprimindo esse sentimento em blocos que aos poucos entopem minhas veias. Você tem razão: no meu peito guardo muita coisa que sou incapaz de verbalizar. Nas últimas vezes que sentamos, nossas conversas foram calcadas em monólogos. A única coisa que conseguia fazer, em meio a suas palavras, era me afogar no meu pranto.

É claro que sinto falta da época que nossas conversas eram tão simples e necessárias quanto o ato de respirar. Nós nos entendíamos na palavra, no olhar, no toque, no ar. Você me ensinou a andar, correr e voar. Tínhamos a mesma sintonia, o mesmo ritmo, o mesmo endereço, o mesmo nome.

Hoje, somos apenas desconhecidas que andam na mesma rua, em calçadas diferentes. Não sei te dizer em que momento passamos a nos separar, nos dividir, nos subtrair. Ficar mais próximas nos tornou mais distantes. Mas sei porém, que ao contrário do que você pensa, o nosso desencontro não se baseou no dia-a-dia, mas sim na descoberta.


A notícia que recebi ha pouco me levou há dez anos atrás, quando ao telefone eu pulava de felicidade em terras distantes. Estou feliz por você, mas confesso que senti um vazio dentro de mim. Parecia que eu tinha lido uma notícia no jornal e estava impossibilitada de comentar sobre o assunto. Senti um aperto forte no coração, que faiscava alegria e chorava saudade de alguém que tivemos apenas em pensamento.


Talvez se eu lhe dissesse o que realmente penso, esse buraco não seria tão fundo. Talvez o que vem a caminho seja mais uma oportunidade de quebramos a parede construída entre nós. Talvez devêssemos realmente começar de novo e esquecer os as distorções encontradas após tantos anos na mesma estrada. Talvez um dia, ao me livrar de tudo isso que carrego dentro de mim, eu te chame pelo meu nome.

2 comentários:

Benites disse...

E não é que isso acontece mesmo? E com freqëncia absurda....Sentir que o que foi não é mais exige uma certa explicação, mesmo que não seja plausivel.
Mas em todo caso, sempre há uma maneira :) e redescobrir o cotidiano, na maioria das vezes, é a melhor coisa que podemos fazer.

beijos!

Fabricio Teixeira disse...

O destino parece fazer questão de separar as pessoas, não é? E enquanto não houver entrega, humildade e atitude de uma das partes, nada vai mudar... =/
Bjo!